Edição #5 — O homem adulto que ainda está aprendendo a ser adulto
Cresci, só esqueceram de me enviar o manual
Quando eu era mais novo, achava que ser adulto seria um estado final. Uma linha de chegada invisível em que, num belo dia, eu acordaria entendendo como tudo funciona. Imaginava que os 30 e poucos eram uma idade estável, uma fase em que eu teria respostas, convicções e jeitos certos de lidar com a vida.
Na prática, a vida adulta é mais parecida com continuar apertando os botões certos por acidente, torcendo para não quebrar nada importante.
Ser adulto é descobrir, na marra, que ninguém sabe o que está fazendo. Uns fingem melhor, outros têm mais planilhas, alguns tiveram pais que explicaram coisas básicas na hora certa. O resto a gente aprende por tentativa e erro. Quase sempre erro.
Ainda estou descobrindo como ser um homem adulto. Aprendendo sobre dinheiro de um jeito prático, não teórico. Sobre cuidar do corpo sem esperar que alguém diga o que fazer. Sobre lidar com o tempo como um recurso escasso, não infinito. E, principalmente, aprendendo a lidar comigo mesmo: com minhas expectativas, minhas falhas, minha autocrítica exagerada.
A vida adulta não é sobre grandes decisões o tempo todo. É sobre pequenas responsabilidades que nunca acabam. Lembrar de comprar sabão em pó, marcar consulta, responder mensagem, fazer imposto de renda, ouvir alguém com atenção, manter promessas que você fez para si mesmo. Às vezes, é justamente esse acúmulo de pequenas tarefas que pesa mais do que qualquer crise existencial.
Tem dias em que me sinto adulto de verdade. Organizado, presente, consciente. Pago contas, cozinho, arrumo a casa, resolvo o que precisa ser resolvido.
E tem outros dias em que acordo com a sensação de que alguém se enganou ao me entregar essa vida. Como se eu fosse um estagiário disfarçado de gerente. Como se eu estivesse escrevendo bilhetes internos para mim mesmo: “tenta não esquecer de ser responsável hoje”.
Existe também a parte silenciosa da vida adulta, que ninguém comenta. O medo de decepcionar, o medo de não ser suficiente, o medo de repetir padrões que eu prometi que nunca repetiria. O medo de fazer escolhas e descobrir tarde demais que elas não eram tão boas assim. Crescer é muito menos glamouroso do que parecia na teoria.
O homem adulto não nasce pronto. Ele se forma na fricção. Na dúvida. Na vergonha de errar. Na coragem de tentar de novo. Na responsabilidade de reconhecer que algumas coisas dependem só de você, e no alívio de entender que outras não dependem tanto assim.
Ainda estou aprendendo a ser adulto. A entender minhas limitações sem transformá-las em sentença. A aceitar que nem sempre vou saber o que estou fazendo. A ser mais gentil comigo mesmo quando erro. A me orgulhar das pequenas vitórias, mesmo aquelas que ninguém vê. A cuidar do meu agora com mais calma.
Crescer não é sobre performance. É sobre presença. É sobre persistir. É sobre tentar viver de um jeito que faça sentido para quem eu sou hoje, não para quem eu imaginava que seria aos trinta.
Talvez seja isso que ninguém me contou. A vida adulta não é o lugar onde você chega pronto. É o lugar onde você se constrói enquanto tenta, falha, melhora e tenta de novo. Cada passo é parte do processo. Cada dúvida também.
No fim das contas, ser adulto é continuar mesmo sem ter certeza. E isso, por si só, já é coragem suficiente.
🔗 Indicações da semana
🎵 Música - Ninguém - Chico Chico e Fran
🎙️ Podcast - Pense Pequeno - Rádio Novelo Apresenta
✉️ Fechamento
Se esse texto te lembrou que ninguém está vivendo a vida com manual, já valeu.
Se trouxe alguma leveza no meio da cobrança que você faz de si mesmo, melhor ainda.
E se você chegou até aqui, obrigado.
Amadurecer é difícil, mas ler com calma também é.

